4º Final de Semana - Thrashin' RJ!
Como diria o Capitão Barbosa com toda sua classe: "fala ae, cambada de arrombados!"
Como estão? Hoje é dia 5 de setembro e finalmente chegamos no Nordeste Brasileiro. Estamos em Salvador, capital da Bahia. Hotelzinho na beira da praia e tudo o mais. Zicados como sempre, a gente trouxe a chuva pra cá, mas nesse momento eu tô passando um calor dis-graçado escrevendo esse diário no fundos de um restaurante em um computadorzinho bem do lado daqueles fornos industriais. Vou pegar um bronze aqui. Espero que pelo menos um pião esteja lendo todas essas besteiras até o fim, para fazer valer a pena esse suor. Literal.
Mas antes de todas as nossas peripécias pelo estado do Rio de Janeiro, o encontro com o mar e todas essas coisas tropicais, lembrei de uma história do último final de semana que eu deixei passar e não poderia faltar por aqui. Foi a demonstração de amor do Cambito ao Violator, na verdade foi a mostra que o nosso caroçudo está disposto à morrer pra proteger os nossos discos. Na saída do show de Maringá, ali pras 4 e meia da manhã estávamos na porta do bar enrolando pra colocar todas as nossas tralhas no carro do Sílvio e assim seguir viagem pra Campinas, como eu contei anteriormente. Nisso, do outro lado da rua, passa um carro fazendo uma provocação.
Nada que a gente não esteja acostumado. Esse é o tipo de coisa que você tem que acostumar quando está disposto a andar com umas calças coladas e essa cara feia por aí. De qualquer maneira, o Batera respondeu um "Meu pau te cutuca!" para o carro provocador. E eis que esse veículo dá a volta e retornando lentamente em nossa direção. O Sílvio, movimentando rapidamente o indicador como se imitasse uma arma fala "vamos entrar no bar moçada, vamos entrar" Mas a gente realmente não podia entrar e deixar todas as nossas coisas ali pelo chão. Então, todos os roqueiros adentraram o bar e ficamos os quatro violas lá fora, vendo aquele carro fazer o retorno e vir pra perto de nós. O medo de todo mundo era um papoco então eu já fui me escondendo logo atrás de uma árvore, Capaça e Batera também ficaram meio desconfiados por ali, mas o Cambito não, o Cambito se deseperou. Mas ele sabia que o medo não poderia ser maior do que o cuidado dos discos, o que resultou numa cena muito engraçada dele tentando pegar aquelas caixas muito pesadas sozinho e gritando muito "Ajuda aí Poney! Vamos fugir!" eu peguei um carrinho e quis fingir que era uma possível arma, mesmo sabendo que não ia assustar ninguém. Ainda bem que no final das contas era só um cara muito bêbado acompanhado de quatro garotas dirigindo o carro provocador.
Em casa, mais uma vez
Como já havia adiantado no último post, eu, Capaça e Cambito teríamos que voltar pra Brasília pela segunda vez para buscar os passaportes na Polícia Federal. Pra mim foi uma boa porque também era a semana do meu aniversário e eu poderia encontrar a namorada, a família, o cachorro e todos os amigos roqueiros que fazem tanta falta nesses dias de tour. Então, na segunda-feira após o Thrash Fundo de Quintal na casa do Edu, pegamos todas as nossas bugigangas e fomos mais uma vez enfrentar aquela epopéia que é o transporte metroviário de São Paulo. Nada nunca é simples pra nós, então nos perdemos, erramos o caminho, fomos seguidos por travestis e tivemos que andar muito até chegar no ponto dos sacoleiros, de onde partem os ônibus piratosos que pegamos para voltar pra casa de São Paulo. Foi nosso último role com o Miroswaldo nessa tour. Acho que ele não devia mais agüentar a gente fazendo imitações do cara que ao perguntar de quem eram as camiestas que vendíamos no show gritou desesperadamente "Miro? Miro??? Miro no seu cu e atiro!"
Nos despedimos do nosso patrocinador oficial, dono da Rebellion Stamp e também nos despedimos do Batera, que passaria a semana em Osasco e nos encontraria lá em Macaé. Pegamos o ônibus dos sacoleiros, ouvimos mais uma vez a reza do "Livrai-nos do mal e da fiscalização. Amém", tivemos a parada pro jantar anunciada com um daqueles bregas típico do Parque da Barragem (Risca-Faca, sabem como é?) com direito a dançinha da rodomoça e tudo. "20 minutos pro jantar *passinho pro lado* 20 minutos pro jantar *passinho pro outro". Sério, eu recomendo a todos viajar pelo menos uma vez de sacoleiros, com certeza alguma história, não necessariamente boa, você vai ter pra contar. Eis que logo após forrarmos a barriga e nos preparamos praquele soninho gostoso, um estrondo. BAM! Explodiu alguma coisa no ônibus, entortou tudo, fez uma barulheira do caralho. Tremia tudo, por um momento imaginei que encontraríamos Baph-Hommet, o gran duque do inferno. Ainda bem que era só um pneu furado.
A semana em casa foi boa demais. Pegamos os passaportes, matamos a saudade e acabamos com o cansaço. Encontrei com meus camaradas do Low Life, Innocent Kids, Terror Revolucionário e todos os amigos Caga-Sangue pra comemorar o aniversário. O Cambito descolou umas caixas de madeira (pesadas pra caralho!) pra gente poder carregar melhor os discos na viagem e eu descolei uma máquina fotográfica pra poder registrar todos os momentos constrangedores ou não da tour. Parece que passou tudo muito rápido, muito rápido mesmo. E já era hora de seguir pro Rio de Janeiro.
Macaé - Thrashaway Beach!
Capaça e Cambitoso pegaram o ônibus da quinta-feira para o Rio. Eu passei a noite em que completei 22 anos em casa e catei um avião na manhã seguinte, chegaríamos na mesma hora. Desci no aeroporto, tava cheio de tralha, peguei um ônibus pra rodoviária e lá encontrei os dois piões. Foi um alívio danado encontrar os outros Violas, parece que a gente se desacostuma a ficar sozinho quando está em tour, ainda mais quando o ambiente é muito insalubre, beirando o macabro como são os arredores daquela rodoviária do Rio. É bem perto do porto e tem até cemitério vertical por ali, não parece muito com aquilo que vemos nas novelas do Manoel Carlos. Nem um pouco.
Pegamos um ônibus pra Macaé, que fica a 3 horas do Rio. Era sexta-feira e o show era daqui a pouco. Passamos pela ponte Rio-Niterói. Deu pra ver o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar de longe, pelo menos eu acho que era. Tinha um filha-da-puta que não parava de fumar dentro do ônibus, e a gente acabou irritando um playboy fortão quando acordamos ele com uns berro de "apaga essa porra!" Chegamos lá em Macaé e fomos recebidos pelo Rhuan, um camarada que tinha conhecido quando tocamos em Campos dos Goytazes, uns seis meses atrás. O Rhuan ficou de babá da gente esses dias e só tenho a agradecer a toda a hospitalidade dele. Ele nos levou pra deixar as coisas no lugar do show e depois para rangar na casa dele. Puta merda, como eu fui feliz nesse momento. O Rhuan também é vegeta e tinha um feijão tropeiro de soja nos esperando por lá. Já deu pra sacar que pelo menos intestinalmente o final de semana seria excelente. E foi mesmo.
Chegamos no lugar do show por volta de 21h e o show tinha acabado de começar. Vários amigos estvam por lá, entre eles o nosso grande camarada Gustavo, um grande figura de Campos que já virou irmão da gente. Também estavam lá o Leon do Apocalyptic Raids, o Ader da Dies Irae, o Luís Gabirel e o Erick de Campos, a Elaine e a Michelle que vieram do Rio e a Idayana que veio lá do Espírito Insano. Reecontramos o pessoal do Agressor, o Paulo 24 anos de Thrash e uns quarenta de Flamengo e o Paulista, responsável pelo show e um cara muito muito responsa. Seria muito bom se todo lugar que fossemos tocar rolasse essa parceria e amizade entre banda e produção.
Além dos thrash-veteranos slayer maníacos do Agressor também tocaram o hardcore com pegada RDP do Residus, banda do nosso camarada campista George e o death metal do pessoal do Tétano. Fomos a última banda e o show foi bem legal. O lugar era muito apertado, o que resultou em várias trombadas entre eu Capaça e Cambito. Eu ficava o tempo todo chutando os caras, teve uma hora que tentei derrubar o Cambitoso na galera com um chute na bunda mas não deu certo. O calor era absurdo, a gente suava bicas. Tocamos Addicted to Mosh mais uma vez e foi uma grande festa. No meio do Circle Pit, o Alexandre levou uma pancada no olho e ficou igualzinho ao Slot. Depois do rock fomos para um bar na praia e ficamos por lá curtindo aquela brisa marítima, o cheiro de álcool e as conversas sobre bandas até de manhã. O Cambito, muito louco, sentiu saudades do Miro e ligou pra casa dele pedindo pra ele largar tudo em Cascavel e vir com a gente.
Capaça, o sonâmbulo
Como não tínhamos mais show nesse final de semana, ficamos de férias por dois dias em Macaé. O Rhuan mora numa casa muito bacana bem perto do mar, então era só acordar, comer um pãozinho com Becel e seguir pra praia. Felicidade total quando quatro piões vindos do interior do Goiás encontram o mar. O Cambito inventou de pegar uns jacarés e quando eu menos percebi só ouvia mais uma vez o "Me ajuda, Poney! Me ajuda!" O Gustavo até arranjou uma paquera na praia, a Dona Divina, moça que vende água-de-coco gelada.
À noite a gente ia dar uma volta na orla de Macaé onde rolava um café com 30 tipos diferentes de cerveja, uns quadrinhos bacanas, filmes legais e até tabuleiro de xadrez. Rolava um fliperama e um karaokê com todas as músicas do Ara-Ketu também. Mas na rua o que pega mesmo são uns playboys com uns carrões turbinados e uns funks no último volume. Em cinco minutos tinha decorado todos os melôs. O Batera pegava o casaco e ficava sacaneando fazendo umas danças sensuais até o Rhuan dar o toque que uma das diversões dos funkeiros de Macaé é dar porrada em qualquer cabeludo de camisa preta. Na verdade, parece que uns anos atrás rolava uma guerra civil entra metal e funk, e é claro os roqueiros sempre levavam a pior.
Então esse foi nosso final de semana no Rio de Janeiro. Melhor impossível. Acho que de tão confortáveis que estávamos lá na casa do Rhuan, o Capaça ficou tão à vontade, mas tão à vontade que de madrugada ele resolveu dar um role. O problema é que ele tava só de cueca. E dormindo. Ou seja, o safado é sonâmbulo e ninguém sabia! No meio da madrugada só de cueca e arrastando um lençol, o Capaça se levanta, vai até o quarto da mãe (!!!) do Rhuan, abre a porta de correr segue até o banheiro e começa a mijar muito. Assustada, a mãe do bicho acorda e vê aquele cabeludo no banheiro dela com a torneirinha na mão molhando tudo pela frente. Depois de encharcar tudo por ali ele vem em direção à cama pra se deitar. "Ô menino, sua cama num é essa daqui não!" E o Capaça, sem dizer uma palavra entra dentro do closet da mulher e tanta dormir por ali mesmo. A sorte é que a mãe do Rhuan é muito gente fina e pegou o Capaça pelo braço e levou ele de volta pro quarto dele. No outro dia, o bicho não se lembrava de porra nenhuma. O coitado ta agüentando nossa zuação e imitações até agora. Mas quem mandou ser sonâmbulo?
Domingo à noite o Rhuan tinha que voltar pra capital fluminense, onde estuda História e o Paulista armou de ficarmos na casa de uma amiga dele, a Poliana. Descolamos um colchão e dormimos no chão de quartinho na companhia de um gatinho pulguento. O Cambito ficou meio paranóico com umas morissocas que nos atormentaram a noite e não conseguiu dormir, ele ficava vagando de um lado pro outro gritando "puta merda" e enfiando a cabeça pra fora de um buraco na parede pra tentar respirar. Na segunda-feira demos um rolê com o Paulista pelo centro, almoçamos um PF, mandamos umas encomendas de volta para casa e no final da tarde catamos o baú para Salvador. 25 horas de viagem e a nossa primeira parada no Nordeste. Eu conto tudo como foi no próximo post.
Valeu!
Obrigado à todos e obrigado ao Thrash.
UFT
Poney